Mais um ano cinematográfico chega ao fim. 2014 ficou conhecido como o ano que serviu de prévia para o “ano dos blockbusters”. 2015 trará para os cinemas novos episódios de algumas das maiores franquias da história e continuações de enormes sucessos recentes. Enquanto o próximo ano não chega, vamos relembrar o que passou. E não apenas isso, mas relembraremos algumas das produções que mais nos desapontaram e esmagaram nossas expectativas. Aqui vai uma lista com algumas das maiores decepções de 2014, veja:
15. A Noite da Virada / S.O.S. – Mulheres ao Mar
Não é bom falar de forma negativa do cinema nacional. Sabemos como é duro conseguir realizar cinema em nosso país. Porém, o cinema brasileiro cresceu muito, e cresceu com força. O que parece não ter crescido ainda foi a qualidade das comédias brasileiras. Embora consigam agradar a maioria das pessoas, se tornando verdadeiros sucessos de bilheterias, alguns deles são simplesmente doloridos de assistirmos. E se o cinema nacional merece elogios por obras como O Lobo Atrás da Porta e Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, também merece puxões de orelha. Para esta segunda parte, menos honrosa, selecionamos logo duas produções.
A primeira, SOS – Mulheres ao Mar, é um desserviço ao sexo feminino, que o filme trata de apresentar como “caçadoras de homens” do mais baixo nível. Já A Noite da Virada ainda nem estreou nos cinemas, mas ganha um lugar especial na lista de decepções. A obra nos deixa de queixo caído imaginando para que público é mirada. Drogas de todos os tipos, assassinato, sexo, e o uso de tanto palavrão quanto filmes que receberam marcações recorde, como O Lobo de Wall Street. Lá nos EUA, este filme recebeu a censura máxima. Veremos qual será a censura de nossa hipócrita versão tupiniquim.
14. Oldboy – Dias de Vingança
Pobre Spike Lee. Este é um projeto que já nasceu morto. Quando os fãs cinéfilos souberam que a cultuada produção coreana receberia um remake americano trataram de chiar enlouquecidamente. Mesmo com um bom elenco, novos conceitos legais, e outros elementos que pareciam estar no lugar, a pergunta que ficou foi: por que? O original já é conhecido e tratado por todos como uma obra-prima.
Então, uma refilmagem soa apenas como forma dos EUA lucrar com uma ideia alheia, ou atender ao fato de que os americanos não gostam de ler legendas (coisa na qual os brasileiros têm embarcado ultimamente). O resultado do novo Oldboy ficou semelhante ao de outra refilmagem de uma obra quintessencial do cinema, Psicose. Gus Van Sant (um bom cineasta) teve a audácia de mexer num projeto sagrado, e refazer Psicose do mestre Alfred Hitchcock. Em menor escala, é exatamente o que temos em Oldboy.
13. Annabelle
Outro exemplo de clara ganância dos executivos de Hollywood, estes do estúdio Warner. Quando acertaram em cheio, e de forma inesperada, com o ótimo Invocação do Mal (um dos melhores filmes de terror mainstream dos últimos tempos), uma sequência foi planejada. No meio tempo, que tal como aperitivo o filme da boneca sensação Annabelle? Filmes de bonecos possuídos são por si só um subgênero, e quase todos dispensáveis. Aqui não foi diferente.
12. Quero Matar Meu Chefe 2
Mais um recente exemplar, que mal chegou aos cinemas brasileiros e já aportou em nossa lista. O primeiro filme estava longe de ser uma obra-prima do humor, mas ao menos continha certa originalidade e graça. Já a continuação segue o caminho fácil apostando na repetição. Se os produtores da obra fossem espertos olhariam para o passado e aprenderiam com os erros de filmes como A Máfia Volta ao Divã e Meu Vizinho Mafioso 2, produções que apenas mancharam as reputações de seus bem sucedidos originais.
11. Need for Speed – O Filme
Essa é difícil. As adaptações de jogos ainda não encontraram lugar ao sol em Hollywood. Ao contrário das HQs, os filmes baseados em games ainda possuem uma má reputação e são marginalizadas. Porém, existe um motivo. É difícil encontrar algum que se salve e seja verdadeiramente bom. Aqui, é adaptado para o cinema o famoso game sobre corridas de carro. O filão? Você acertou se disse Velozes e Furiosos. Com o sucesso da franquia motorizada da Universal, por que não reprisar com esta marca pré-estabelecida. A resposta? Falta de carisma ou personagens verdadeiramente humanos.
10. Caçadores de Obras-Primas
É quase inacreditável que um astro do calibre de George Clooney, que além de tudo se mostrou um talentoso diretor, entregaria uma bomba como esta. No fim do ano passado, a obra era prometida para a época de premiações. Sabiamente, o filme foi adiado até o início deste ano. O motivo, aprendemos da pior maneira após seu lançamento: o quarto filme de Clooney como diretor não teria chance alguma.
A obra parece inacabada, diversos momentos “morrem na praia”, e os personagens são mal desenvolvidos. De fato, suas motivações e relacionamentos não são explorados de forma devida. Com um dos melhores elencos do ano (que inclui a recém Oscarizada Cate Blanchett e Matt Damon) e um tema interessante, Clooney e os envolvidos conseguiram criar um filme sem vida. Merecem créditos, pois não é sempre que isso acontece.
9. O Juiz
O mesmo pode ser dito aqui. O tão esperado papel sério de Robert “Homem de Ferro” Downey Jr. se mostrou um filme insosso, longo demais e que não consegue decolar. Todos os clichês da cartilha de filmes assim são explorados à risca e de forma séria. Talvez esse seja um filme para quem nunca assistiu a outro, pois aposta em elementos tão batidos, que podemos listá-los de longe. Os atores estão bem, e Robert Duvall (o juiz do título) é cotado para o Oscar como coadjuvante.
O problema é a pieguice extrema, que não deixa momentos bons (como a cena entre Duvall e Downey Jr. no banheiro) sobressaírem. O filme ainda guarda alguns dos momentos mais WTF do ano (envolvendo laços familiares bem estranhos – filha e pai / sobrinha e tio) para uma produção mainstream mirada ao grande público, de um grande estúdio. Mas ei, isso é entretenimento.
8. Livrai-nos do Mal / Ouija: O Jogo dos Espíritos
Aqui entra o gênero mais marginalizado do cinema. Os filmes de terror, em sua maioria, são mirados ao público jovem. Consequentemente, sobressaem elementos como a falta de exigência ou coerência em tais produções. O que importa é a diversão, é como uma ida ao trem fantasma. Os que vão além, utilizam elementos que compõem uma obra cinematográfica de verdade, como boas atuações, bons atores e um bom roteiro. Nos EUA, um crítico de cinema famoso desistiu de avaliar tais produções, a esta altura de sua vida e carreira. É muito duro para nós, adultos especialistas em cinema, sentarmos durante duas horas assistindo algo que não irá acrescentar nada em nossas vidas. Ao mesmo tempo não sendo algo que podemos chamar de diversão.
Livrai-nos do Mal joga na lama o tema possessão demoníaca, eternizado por O Exorcista há quatro décadas. O filme é quase uma cópia desagradável de Possuídos (1998), com Denzel Washington. Troque apenas as canções dos Rolling Stones pelas dos The Doors. Já Ouija, que chega aos cinemas neste fim de semana, tem como mote as famosas tábuas de comunicação com os espíritos. O bizarro é que a tábua na verdade trata-se de um produto da Hasbro, mesma empresa dos bonecos Tranformers, GI Joe e do jogo Battleship (Batalha Naval). Ou seja, o filme é basicamente uma campanha de marketing para o “brinquedo”. O lado positivo é que não teremos que pensar muito no que dar para a criançada neste natal… Meu Deus!
7. Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola
No verão americano de 2012, o nome mais quente do momento era o de Seth McFarlane. O criador do desenho adulto Uma Família da Pesada entregava Ted, filme sobre um ursinho de pelúcia desbocado e incorreto. O personagem ganhou o mundo se tornando icônico. Antes da tão esperada continuação, a mesma Universal (Paramount no Brasil) lhe deu carta branca, e um orçamento gigantesco para criar seu faroeste cômico. McFarlane estava com moral para reunir um elenco de primeira, que fez uso do casca grossa Liam Neeson como o vilão e uma das mais belas estrelas da atualidade, a estonteante Charlize Theron. O autor ainda descolou um papel protagonista para si. E como forma de realinhar as forças no universo, a obra foi um dos grandes fiascos do ano.
6. Pompeia
Muitos podem dizer que incluir esta produção na lista é o equivalente a “chutar cachorro morto”. Pode ser, mas o cineasta Paul W. S. Anderson (o primo pobre de Michael Bay) é conhecido por fazer uso de grandiosos orçamentos em suas produções e, de quase sempre, render um bom resultado nas bilheterias. Este é o único motivo para o marido de Milla Jovovich continuar nos afrontando com seus lançamentos. Aqui, ele decide misturar o cinema catástrofe, com filmes de “sandália e espada”, além é claro, de espremer um romance proibido.
Pompeia recai no quesito de prazer culposo, que de tão ruim se torna bom. É delicioso encontrar pequenas cenas e detalhes que são verdadeiras preciosidades, como a atuação hiper canastra de Kieffer “Jack Bauer” Sutherland como o vilão, o teor homoerótico entre a princesa e sua mucama, e entre os gladiadores suados, e cenas como quando Kit “Jon Snow” Harrington quebra o pescoço de um cavalo com as mãos. Isso tudo, antes do Monte Vesúvio entrar em erupção.
5. Drácula: A História Nunca Contada
O melhor título para esta produção, que visava reeditar o clássico Drácula para uma nova geração, seria Drácula: A História Nunca Antes Inventada. O propósito da Universal era reimaginar seus clássicos monstros, transformando todos numa espécie de heróis amaldiçoados. O motivo para isso foi o sucesso da Marvel Studios, um exemplo atual em Hollywood de como gerar lucros ridiculamente astronômicos. Obviamente, todos querem entrar nesse filão. Quantos conseguiram? Bom, nenhum.
A Sony tentou com os novos Homem-Aranha. E a Universal tentou com Drácula. De qualquer forma, o filme estrelado pelo eficiente Luke Evans obteve um sucesso modesto, o que pode ser o suficiente para dar continuidade nessa investida. Se seguir com o planejado, em breve teremos Frankenstein e o Lobisomem se encontrando com o protagonista dessa produção, para uma superequipe a la Vingadores. Pode me chamar de antiquado, mas o lugar do personagem é nos filmes de terror e não nos de super-heróis…
4. Transcendence – A Revolução
Johnny Depp é um astro que anda sem sorte atualmente. O extremamente lucrativo intérprete do Capitão Jack Sparrow, agora com 51 anos completos, pode estar vivendo a transição para seu declínio. Após os 50 a vida fica mais difícil, e isso inclui os astros de cinema. Faz tempo que Depp não conquista um verdadeiro sucesso de crítica (talvez o último tenha sido Sweeney Todd, junto com sua última indicação ao Oscar).
O repertório live action do ator na nova década inclui O Turista, Diário de um Jornalista Bêbado, Sombras da Noite, O Cavaleiro Solitário e o último Piratas do Caribe. Ou seja, nada verdadeiramente memorável. Aqui, Depp vive um cientista que passa sua consciência para dentro de uma máquina. Nenhuma novidade, apenas o fato de estarmos mais perto de tal acontecimento. Transcendence é um filme esquizofrênico. Deseja falar sobre várias coisas ao mesmo tempo e termina por não dizer nada sobre qualquer dos temas. É louco o suficiente para se tornar um prazer culposo cult, desses que anos depois lembraremos dizendo: “Ah, sim. Ele fez esse filme. Que coisa”.
3. Frankenstein – Entre Anjos e Demônios
Se o plano da Universal era capitalizar em cima de seus monstros clássicos, esta produção da Lionsgate não ajudou em nada com a imagem da criatura Frankenstein. Talvez o pior filme a utilizar o personagem criado por Mary Shelley desde A Prometida (1985), Entre Anjos e Demônios traz o primeiro Frankenstein galã do cinema. Nas formas de Aaron Eckhart, o monstro retalhado se transforma num loiro sarado, capaz de conquistar uma bela cientista.
E não apenas isso, o heroico protagonista está no meio de uma batalha milenar entre forças celestiais e das trevas. O filme serve para nos perguntarmos, o que esses produtores fumaram na hora de dar sinal verde para esta produção? Frankenstein faz Anjos da Noite soar como Cidadão Kane por comparação. Tão impraticável quanto o filme são as asas de pedra dos personagens, que voam! E pensar que já tínhamos visto de tudo.
2. O Espetacular Homem-Aranha 2
Os novos filmes do maior super-herói da Marvel servem para mostrar como não tratar um icônico e potencialmente rentável personagem. Talvez por ser o mais abrangente dos heróis da Marvel, e o com os problemas mais identificáveis para todos os adolescentes, os filmes do Homem-Aranha no cinema são também os que mais andam na tênue linha do cinema jovem com o cinema infantil. Se formos pensar em qual filme de super-herói recomendaríamos para aquele sobrinho de cinco ou seis anos de idade, atualmente diríamos Homem-Aranha.
Mas isso não é de hoje, e pode ser dito de todos os filmes da era Sam Raimi. Porém, o problema realmente não é este, já que existem ótimos exemplares do cinema adolescente e infantil (só este ano tivemos Como Treinar o Seu Dragão 2, por exemplo). O que falta aos novos filmes do herói é graça, humor que funcione, cenas de ação verdadeiramente empolgantes e atuações mais contidas. O Espetacular Homem-Aranha 2 é o Batman Eternamente dessa geração e pôs fim aos sonhos de expansão de tal universo, ao menos por enquanto, para a Sony.
1. As Tartarugas Ninja
A primeira posição da lista (a mais baixa) se enquadra um pouco no que foi dito do filme acima. As Tartarugas Ninja sempre foi um produto mirado ao público infantil. Gostávamos e continuamos gostando, pois fez parte da nossa infância. Não tem nada de errado nisso. Os três filmes produzidos para o cinema (1990, 1991 e 1993) fizeram sucesso na época, mas basta uma segunda investida atualmente para notarmos que nosso senso crítico era zero. Agora, todos nós “trintões” no mínimo, seria um disparate deixarmos a nova versão passar em nossos gostos simplesmente pela nostalgia.
E não é dizer que qualquer produto mirado ao público infantil é ruim. Como citado acima igualmente, diversas produções no ano, produzidas com tal público em mente, são melhores do que muitos filmes adultos. Veja Uma Aventura Lego, por exemplo. Um filme desenfreado e alucinantemente hilário. Justamente o que faltou ao novo Tartarugas Ninja. Produzido pelo açougueiro de nosso tempo, Michael Bay, o novo filme do quarteto réptil aposta no seguro, nos clichês, e não cria nada de novo para a produção. O único ponto positivo aqui é a curta duração. A repórter April O´Neill nunca foi tão mal representada quanto como na pele da bela Megan Fox.
Menções Desonrosas:
Inatividade Paranormal 2 (Choca muito saber que tais filmes paródia ainda existem e pior, fazem sucesso).Profissão de Risco (Um dos pontos baixos da carreira dos grandes De Niro e Cusack. De quebra uma atriz brasileira, Rebecca Da Costa).
Amor Sem Fim (por falar em refilmagens pouco inspiradas…).
Divergente (quase um flop, mas não o suficiente…).
O Filho de Deus (não importa a sua religião, cinema sem qualidade é universal).
No Olho do Tornado (tão ruim que é bom).
Decepções Nacionais:
Isolados (valeu a tentativa de investir em cinema de gênero no Brasil).O Candidato Honesto (boa premissa destruída pelo humor de baixo calão).
Vestido para Casar (um fiapo de roteiro – homem rasga vestido de mulher – e lá se vai a grana do povo).
Rio, Eu Te Amo (não queríamos dizer, mas o exemplar brasileiro de Cities of Love não é assim muito bom).
Julio Sumiu (e a paciência de muitos espectadores com as comédias brasileiras também).
Confia em Mim (mesmo com o carisma dos protagonistas, soa mais como um extinto “caso especial” do que com um longa-metragem).
Decepções em Vídeo:
Sangue na Veia ou No Sangue (In the Blood) – filme genérico que serve como tentativa de impulsionar a carreira da ex-lutadora Gina Carano (Velozes e Furiosos 6 / A Toda Prova) no cinema.Diário de uma Virgem (a musa indie americana Aubrey Plaza – da série Parks and Recreation e Sem Segurança Nenhuma – entra numa roubada ao protagonizar essa tentativa de comédia).
Minha Casa Caiu ou De Mal a Pior (Walk of Shame) – Elizabeth Banks e seu delicioso vestido amarelo…
Tammy (começo do declínio para a superestimada Melissa McCarthy?)
Palavrões (Bad Words) – Jason Bateman estreia com o pé esquerdo na direção.
Sabotagem (marca o primeiro filme em décadas, ou da carreira toda, do ex-astro Arnold Schwarzenegger lançado direto em vídeo. É o sinal do fim dos tempos).
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